1.0 EM QUE MEDIDA OS TRÊS FUNDADORES DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO: ÉMILE DURKHEIM, KARL MARX E MAX WEBER, REFLETIRAM O SISTEMA CAPITALISTA DE PRODUÇÃO INAUGURA UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO
Educar
é, antes de tudo, organizar a experiência dos indivíduos na vida
cotidiana, desenvolverem-lhes a personalidade e garantir-lhes a
sobrevivência. As ações empreendidas com a finalidade de educar
estão diretamente relacionadas às normas sociais vigentes e aos
valores compartilhados pelos indivíduos, no contexto de determinadas
sociedade, cultura e tempo histórico. Se as regras do mundo social
já estão prontas quando nascemos, a vida que vivemos na relação
com os outros nos convida a mudá-las, e nós as mudamos, mesmo que
não percebamos ou que apenas as gerações seguintes sintam os
efeitos de nossa intervenção.
A
sociologia é uma ciência que surge e se desenvolve com o advento do
capitalismo. Por causa dessa marca de nascimento, a reflexão
sociológica, que aparece na sistematização intelectual de seus
fundadores mais importantes como Émile Durkheim, Karl Marx ou Max
Weber, tem como ponto de partida o interesse em compreender as
maravilhas e as atrocidades deste novo mundo que se abriu com o
desenvolvimento da grande indústria moderna e da sociedade dividida
em classes.
Para
a sociologia, não há pedagogia neutra: todas são construídas e
utilizadas em meio a valores e normas, com o objetivo de conservar o
status quo ou de subvertê-lo. Olhar a educação do ponto de vista
da sociologia é compreender que se por um lado as pedagogias são o
fundamento das práticas educacionais, por outro as crenças, os
valores e as normas sociais são os fundamentos da pedagogia. Este
livro apresenta a sociologia da educação como a disciplina
acadêmica que se preocupa em reconstruir as relações, que existem
na prática cotidiana, entre as ações que objetivam educar e as
estruturas da vida social, quer dizer, a economia, a cultura, as
normas jurídicas, as concepções de mundo, os conflitos políticos.
1.1.
ÉMILE DURKHEIM E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
Nascido
na Alsácia, na cidade de Épinal em 15 de abril de 1858, Émile
Durkheim deu início aos seus estudos na Escola Normal Superior de
Paris, formando-se mais tarde em Filosofia.
Teve
seu pensamento influenciado por Augusto Comte e Herbert Spencer de
forma significativa na busca científica do estudo das humanidades.
Tem
no desenvolvimento da sociologia grande contribuição, notadamente
na realização do trabalho em que aborda a reflexão e o
reconhecimento da existência de uma “Consciência Coletiva”, ou
seja, o homem inserido em um determinado grupo social, seria capaz de
aprender hábitos, costumes e valores deste grupo social e assim
poder conviver em seu meio.
A
“Consciência Coletiva” seria fruto de um processo por ele
denominado de “Socialização”, o qual advinha de tudo aquilo que
habita nossas mentes e que nos orienta como “Ser Social” seja no
nosso comportamento, sentimentos ou como devemos ser perante a
sociedade. Deste modo, diz que a consciência coletiva é capaz de
constranger, pois a mesma é coercitiva e forçosamente irá impelir
o individuo a viver nos moldes estabelecidos pela sociedade.
A
todos esses preceitos ele denominou como sendo “Fatos Sociais”,
os quais inclusive eram para ele, os objetos de estudo da sociologia
e deveriam ser tratados como “coisas”.
Contudo,
nem todos os atos ou ações realizados pelo individuo seriam
classificados como fato social, o qual na visão de Durkheim têm
existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada
indivíduo em particular e segundo sua metodologia, para essa
classificação deveria atender a três características, quais
sejam:
• Coercitividade,
que pode ser entendido como a força que exercem sobre os indivíduos
obrigando-os através do constrangimento a se conformarem com as
regras, normas e valores sociais vigentes;
• Exterioridade,
que pode ser entendida como a existência de um fenômeno social que
atua sobre os indivíduos, mas independe das vontades individuais;
• Generalidade,
que pode ser entendida como a manifestação de um fenômeno que
permeia toda a sociedade.
O
comportamento, o que sentem, pensam ou fazem os indivíduos são
estabelecidos pela sociedade, pois é ela o fator determinante para a
continuidade da vida social, que exerce através dos adultos a
interferência no aprendizado e na educação dos mais jovens e
crianças para perpetuar assim a paz e ordem social, inclusive no que
diz respeito à evolução da sociedade em todos os seus aspectos.
A
sociedade, para Durkheim, é governada pela lei da divisão do
trabalho, o qual será cada vez mais dividido entre os individuos com
a evolução social e o consequente aumento do trabalho. O resultado
da divisão do trabalho seria o aumento da força produtiva, da
habilidade no trabalho, rápido desenvolvimento material e
intelectual da sociedade, permite que tenha equilibrio, harmonia e
ordem social devido a necessidade de união e diversidade semelhante
a todos os membros da sociedade, trazendo assim integração e
estrutura social, por fim, tráz solidariedade social.
A
solidariedade para Durkheim é dividida em solidariedade mecânica e
orgânica, tendo cada uma sua estrutura própria e advém da divisão
do trabalho.
A
solidariedade mecânica é oriunda das semelhanças individuais, é
uma necessidade de vivência social, pois liga o indivíduo à
sociedade, tornando harmônica as suas relações. Para isto
necessita de repressão contra qualquer desvio de limite; imposto
pela consciência coletiva.
A
solidariedade orgânica é a independência individual, mas depende
da sociedade por que depende das partes que a compõe. Contudo a
solidariedade orgânica dá parâmetros de liberdade a consciência
individual, surgindo um novo tipo de solidariedade.
Quando
o sistema social não atende aos anseios e aos resultados esperados
pela sociadade, Durkheim diz que a sociedade está em estado
patológico, ou seja, não está funcionando como esperado e por isso
sofre de anomia social. A sociedade é constituida de varias
instituições, as quais devem dar as diretrizes aos individuos, e
estando estas instituições enfraquecidas, sem atender os preceitos
e normas estabelecidas pela sociedade, ocorre o estado de anomia
social. Um exemplo pratico é o estudo que elabora sobre o suicidio,
o qual em determinado momento é normal, pois faz parte da vida
social, mas quando o número de suicídio é muito significativo,
muito acima do que é tido como “nomal” passa a ser uma patologia
social, fazendo com que a sociedade viva este estado de anomia
social, ou seja, a sociedade não conseguiu atigir suas finalidades
sociais, o progresso social.
Para
Durkheim, todo ser humano nasce egoísta, e através da sociedade
torna-se solidário por meio da educação, a qual é exercida de
forma vertical, de cima para baixo, ou seja, as gerações adultas
agem sobre as novas gerações, ações essas que preparam as novas
gerações para a vida em sociedade. Nesse diapasão, verificamos
que a sociedade busca na educação preparar as novas gerações em
um esforço continuo para a vida social, impondo-lhe a sua maneira de
viver, de agir e sentir, num ato conservador e perpetuador de suas
convicções de uma vida harmônica e sem intempéries, onde jamais
chegariam as novas gerações se não fossem conduzidas e ensinas
pelas gerações adultas.
Atribui
à educação o papel fundamental para o desenvolvimento do ser
social, pois através dela, o individuo desenvolveria em si os
aspectos morais, políticos, físicos e intelectuais do grupo social
em que está inserido.
Para
finalizar uma frase celebre do pensador.
“A
educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança
estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política
no seu conjunto”
Assim
sendo, percebemos que Durkheim, através da sua visão da sociedade,
busca no estudo de sua cultura, costumes e instrumentos normativos,
verificar cientificamente, se a sociedade está bem estruturada em
todas as suas instituições, buscando seu fortalecimento através da
transmissão de conhecimento entre as gerações, sendo a geração
adulta responsável por instruir as gerações jovens, para assim dar
continuidade aos anseios sociais.
Diz
também ser a educação o instrumento basilar da sociedade que só
através de uma educação de qualidade poderá a sociedade ter
individuos bem prapardos para enfrentar os desafio sociais e não
permitir o enfrequecimento das instituições sociais, possibilitando
assim, o êxito social, seja material, intectual e moral, o progresso
estaria assegurado, deixando a sociedade sempre em estado de
harmônia.
1.2.
KARL MARX E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
O
clima cultural do século XIX estava mudando. Os ideais progressistas
e iluministas da Revolução Industrial e Francesa não mais
incendiavam e sim amedrontavam as sociedades européias e americanas.
O susto pelos excessos revolucionários fortaleceu os desejos de
restauração da antiga ordem. As campanhas militares de Napoleão e
as obras filosóficas de Hegel recolocaram o mundo e os ideais em
“ordem”, política e intelectualmente. (NOSELLA, 2005)
Deveras,
os tempos estavam mudando: enquanto os socialistas utópicos ainda
acreditavam na essencialidade da força de trabalho humano, os
próprios industriais compreendiam que o centro nevrálgico do
processo de transformação era o “meio” de trabalho, que podia
ser um homem, uma mulher, uma criança ou então uma máquina, uma
estrutura organizativa, algo que pode utilizar o homem ou até mesmo
dispensá-lo. A relação entre trabalhador e produção era, afinal,
menos orgânica e indispensável do que até então se pensava:
“A
revolução determinada pelas máquinas na relação jurídica entre
quem compra e quem vende força de trabalho é tal que toda a
transação perde até a aparência de um contrato entre pessoas
livres.” (MARX, 1974, p. 440)
Em
suma, para o capitalista não existe negociação objetiva entre o
capital e o homem. Assim, ou o homem passa a negar radicalmente o
capital ou o capital negará definitivamente o homem. Para o marxismo
científico não existe a possibilidade da dialética hegeliana da
conciliação entre o capital e a subjetividade humana. Funciona
apenas a dialética da negação da negação. Consequentemente, só
o proletariado representa a subjetividade histórica que pode
garantir o homem contra seu aniquilamento e o socialismo é o seu
único programa científico de auto-emancipação.
Nosella
(2005), fala que o socialismo científico sofreu grande influência
do cientificismo positivista, do evolucionismo darwinista e do
experimentalismo; por exemplo, da psicologia: todas essas vertentes
comungavam uma filosofia da história com base no determinismo.
Assim, o socialismo científico concluía que o reino da liberdade
(comunismo) só aconteceriaapós o reino da necessidade
(capitalismo). A justaposição dos dois “reinos”,
cientificamente arbitrária, era uma declinação filosófica da
visão judaico-cristã da passagem (Páscoa) deste mundo, vale de
lágrimas, para o mundo celeste, o paraíso. Quando Marx e Engels
tentavam dizer algo sobre as características da futura sociedade
comunista, apenas invertiam os sinais das características da
sociedade burguesa. Assim, por exemplo, o conceito de trabalho
permanece prisioneiro dos limites conceituais da crítica ao trabalho
burguês. Como também o conceito de Estado não ultrapassa os
limites da crítica ao Estado burguês.
Por
isso, o marxismo ortodoxo ou o socialismo científico não conseguiu
perceber que a educação infantil e a escola em geral, mesmo no
âmbito dos Estados burgueses, tomariam enorme impulso e
desenvolvimento, muito além dos limites do trabalho fabril e da
escola profissional. Concluindo: o reducionismo escolar que é
criticado ao socialismo ortodoxo foi reflexo, na verdade, da aporia
marxiana, criticada por muitos analistas, a respeito da categoria
trabalho.
Entretanto,
apesar dos inegáveis limites do socialismo científico, é dele o
grande mérito de combinar ensino e produção. A partir de Marx, o
trabalho produtivo passou a ser o fundamento principal da pedagogia
socialista, que também influenciou toda a pedagogia progressista do
século XX.
A
pedagogia marxista não só considera hegemônico o papel da fábrica
no processo pedagógico, com referência à escola tradicional, mas
também com referência à própria família. Escola e família
precisam ser “educadas” pelo trabalho produtivo industrial, a
primeira tornando-se cada vez mais profissional, técnica e,
finalmente, tecnológica; a segunda, conhecendo a substituição da
autoridade dos pais (patria potestas) pela autoridade, num primeiro
momento, do capital e, finalmente, do Estado socialista industrial.
(NOSELLA, 1991)
Força
dos fatos, finalmente, obrigou a sociedade a reconhecer que a grande
indústria, desagregando o fundamento econômico da velha família e
do trabalho familiar que lhe correspondia, desagrega também as
velhas relações familiares (patria potestas). Precisou, finalmente,
proclamar o direito dos filhos. (MARX apud MANACORDA, 1964, p. 98).
Mesmo
reconhecendo que o fundamento último da exploração infantil é a
mais-valia capitalista, Marx percebe que o capital realiza a
exploração das crianças através da autoridade familiar e que,
portanto, a desagregação desta permite o surgimento futuro de uma
forma superior de família, a socialista, assim como à forma
familiar greco-romana se seguiu a germânico-cristã, etc:
“Desgraçadamente,
as crianças dos dois sexos não precisam de proteção contra
ninguém quanto contra seus próprios pais. O sistema de exploração
ilimitada do trabalho infantil em geral e do trabalho domiciliar em
particular é mantido pelo fato dos pais exercitarem sobre seus
jovens e tenros rebentos uma autoridade arbitrária prejudicial, sem
limites e sem controle. Os pais não podem possuir o poder absoluto
de tornar seus filhos meras e simples máquinas de render algum
salário semanal. Crianças e adolescentes têm direito a serem
protegidas pela legislação contra o abuso da autoridade paterna que
arrebenta precocemente sua força física e os rebaixa na escala dos
seres morais e intelectuais. (MARX apud MANACORDA, 1964, p. 98).
Aos
poucos, até mesmo os princípios fundamentais da pedagogia marxista
do século XIX sofriam alterações significativas. A saber: a
concepção sobre a relação instrução-trabalho, escola-política
e escola-herança cultural do passado estava sofrendo profundas
modificações. O socialismo científico de Marx e Engels
estabelecera uma relação mecânica e pontual entre trabalho fabril
e escola. Era quase um somatório ou uma alternância de momentos,
uns passados na escola profissional e outros na fábrica. Mas as
reformas educacionais de Krupskaia concebiam essa relação de forma
mais orgânica e geral, porque a fábrica influencia a sociedade como
um todo e o trabalho industrial, como princípio educativo, modifica
difusa e universalmente todas as esferas da sociedade. Assim, o
industrialismo educa todo o conjunto da sociedade, não apenas o ser
humano que está materialmente dentro dos muros da fábrica. Nesse
sentido, até mesmo as creches infantis de uma sociedade industrial
socialista são informadas pelo trabalho fabril como princípio
educativo. (NOSELLA, 2005)
Consequentemente,
a proibição do trabalho das crianças, que para Marx soava como
postura idealista e reacionária, para os pedagogos socialistas
soviéticos era um imperativo, sem com isso negar o princípio do
trabalho industrial como fundamento universal da pedagogia
socialista.
1.3.
MAX WEBER E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
Max
Weber descreve uma educação racional, onde os indivíduos são
preparados para exercer as funções dentro da sociedade. A educação
é um instrumento para estratificação social, ela forma o
indivíduo, diz ele. Uma educação para a qual esse indivíduo vai
seguir suas ações.
Weber
vê a educação como uma ação social e aponta três caminhos para
a educação: despertar o carisma é o caminho direcionado àqueles
indivíduos que são considerados únicos na sociedade, poderão se
tornar líderes através do desenvolvimento do pensamento. A
pedagogia do cultivo forma culturalmente o indivíduo para que possa
exercer sua função dentro da estrutura em que ele está inserido. E
a pedagogia do treinamento prepara um especialista para cumprir
determinada função dentro da estrutura hierarquizada e burocrática
da sociedade capitalista.
A
educação, constituída por um caráter institucional, racional e
burocrático, impede os estudantes tenham uma liberdade maior de
construção do conhecimento, presos a uma espécie de treinamento.
Desse modo o papel que o professor desempenha é de um treinador.
É
preciso que o professor adote uma postura de vendedor, ou seja, que o
professor proporcione aos alunos, além do conteúdo, uma reflexão.
E isto vem de encontro com o modo como este conteúdo é passado. O
professor deve levar em conta o conhecimento de mundo de cada aluno,
suas diferenças em termos de capacidade de aprendizado, deixando de
lado essa hemogeneização, essa forma estabelecida com que se cobra
a sociedade.
No
pensamento marxista, a educação é um espaço de reprodução
ideológica dos interesses da classe dominante (a burguesia); em
Durkheim, a educação é vista como instituição integradora
essencial à ordem social; na perspectiva weberiana, a educação é
fonte de um novo princípio de controlo, enquanto racionalidade
instrumental de dominação burocrática. Se em Marx a educação
pode oprimir ou emancipar o indivíduo (no sentido de “libertação”);
em Durkheim, a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna
membro de uma sociedade (se torna “um ser novo”). Weber vai mais
longe: a educação é factor de selecção e de estratificação
social. Marx e Durkheim centraram-se no poder das forças externas ao
indivíduo; Weber centrou-se na capacidade de acção do indivíduo
sobre o exterior.
2.0.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Alonso
Bezerra. SILVA, Wilton Carlos Lima. Sociologia e Educação. São
Paulo. 2006; Editora Avercamp.
DURKHEIM,
Êmile. Educação e Sociologia 10ª ed. São Paulo, Ed.
Melhoramentos, 1975.
pt.shvoong.com
› Ciências Sociais › Educação
HOBSBAWN,
ERIC. J. (org.). História do Marxismo: O marxismo no tempo de Marx.
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980.
QUINTANEIRO,
Tãnia. Um toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Werber. Belo
Horizonte, Ed. UFMG. 1995.
SELL,
Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI,
2002, p.132
Battini,
Okçana. Cultura e sociedade: pedagogia / Okçana Battini, Adriana de
Fátima Ferreira. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
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