Aluno: Benedito M. Fagundes
GRANDE SERTÃO:
VEREDAS - GUIMARÃES ROSA
1 – INTRODUÇÃO
João Guimarães Rosa, nascido em 27 de junho de 1908, em entrevista
concedida ao crítico alemão Günter Lorenz em 1965. Filho de
Floduardo Pinto Rosa, pequeno comerciante na cidade mineira de
Cordisburgo, e de Francisca Guimarães Rosa. Primeiro dos seis filhos
do casal, Rosa passou a primeira década de vida na cidade natal,
região de fazendas e criação de gado. Sobre essa época, ele
comentou: “Não gosto de falar em infância. É um tempo de coisas
boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, intervindo,
estragando os prazeres. Recordando o tempo de criança, vejo por lá
um excesso de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao modo de
soldados e policiais do invasor, em pátria ocupada. Fui rancoroso e
revolucionário permanente, então. Gostava de estudar sozinho e de
brincar de geografia. Mas, tempo bom de verdade, só começou com a
conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me
num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias,
poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem,
misturando as melhores coisas vistas e ouvidas”.
Tendo aprendido as primeiras letras com mestre Candinho e francês
com frei Esteves, o menino foi para Belo Horizonte em 1918, onde se
matriculou no famoso Colégio Arnaldo. Na capital era freqüentador
da biblioteca e estudava – por conta própria – línguas e
história natural.
Ingressando na Faculdade de Medicina, manteve o interesse pela
literatura. Em 1929, venceu, com o conto O Mistério de Highmore
Hall, um concurso da revista O Cruzeiro, que o publicou em julho do
mesmo ano. Era a estréia literária do autor, embora ainda sem o
estilo que o caracterizaria.
Como dominava diversos idiomas, decidiu, ainda em 1934, prestar
concurso para o Itamaraty. Passou em segundo lugar, ingressando na
carreira diplomática. Em 1936, seu livro de poemas Magma (que
permaneceria inédito, por vontade do autor, por mais de 60 anos,
sendo publicado apenas em 1997) foi premiado pela Academia Brasileira
de Letras.
Finalmente, em 1967, decidiu marcar a cerimônia de posse, escolhendo
a data do aniversário de seu antecessor: 16 de novembro. Em seu
discurso, além de homenagear Fontoura,evocou a Codisburgo natal. Na
ocasião fez o que pareceria ser uma despedida premonitória,
dizendo: “a gente morre é para provar que viveu.(...) As pessoas
não morrem, ficam encantadas”. Vitimado por um enfarte, Guimarães
Rosa encantou-se três dias depois, em 19 de novembro. (Discutindo
Literatura – Especial –Ano 1, nº4 – pág. 07 a 11 - Editora
Escala Educacional)
DESENVOLVIMENTO (resumo)
“Um fazendeiro de nome Riobaldo, às margens do rio Urucuia, recebe
um visitante da cidade, e lhe conta a história da sua vida. Foi
chefe de jagunços; tomou parte numa das grandes guerras entre os
bandos armados que percorriam o sertão. Entrou para as lutas
sertanejas acompanhando as forças de polícia que perseguiam os
bandos, sob o comando de Zé Bebelo. Depois passou para o outro lado,
sob a chefia de Joca Ramiro, que derrota e aprisiona Bebelo. Mas
Ramiro é assassinado por dois de seus substitutos, Hermógenes e
Ricardão. A partir daí a narração conta a longa história da
vingança contra os dois traidores. Chefes se sucedem no comando dos
vingadores, sem sucesso, entre eles o próprio Zé Bebelo.
Finalmente, Riobaldo assume a chefia, depois de procurar fazer um
pacto com o Diabo, para derrotar Hermógenes, que tinha fama de
pactário. Neste percurso, dividido entre vários amores, Riobaldo se
descobre apaixonado por seu companheiro de lutas, Diadorim, que
conheceu quando menino, o que o perturba muito. Ao final, Riobaldo
consegue derrotar Hermógenes, mas perde Diadorim, enquanto seu
grande segredo se revela. Rememorando sua vida, Riobaldo se interroga
continuamente sobre a existência do Diabo, e se de fato fez o pacto.
Único romance de Guimarães Rosa e um dos livros mais importantes da
literatura brasileira, Grande sertão: veredas foi publicado em
1956.” (AGUIAR, 2006, p. 136)
2.1. ESTRUTURA DA NARRATIVA
I - TEMPO
Psicológico: A narrativa é irregular (enredo não linear), sendo
acrescidos vários casos pequenos.
II - FOCO NARRATIVO
Primeira pessoa - narrador-personagem - utilizando-se do discurso
direto e indireto livre.
III - ESPAÇO
A trama ocorre no sertão mineiro (norte), sul da Bahia e Goiás. No
entanto, por se tratar de uma narrativa densa, repleta de reflexões
e divagações, ganha um caráter universal - "o sertão é o
mundo".
2.2. SOBRE A OBRA
A polêmica em relação à obra de Guimarães Rosa cresce com a
publicação de Grande sertão: veredas. O romance não se enquadrava
nos paradigmas ficcionais da época – era um longo monólogo de 596
páginas, sem capítulos ou divisões internas, sem prólogo ou algum
tipo de introdução: começava em plena ação: “-Nonada. Tiros
que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja”.
O travessão que inicia a fala de Riobaldo não é apenas um recurso
gráfico: é um dado semiótico importante. Significa que houve uma
pergunta anterior, para sempre desconhecida, desencadeadora de toda a
narrativa.
A partir desse pequeno dado – o uso de um travessão – Rosa
subverte a técnica narrativa do romance, que é na verdade um
diálogo. A história é contada para alguém de fora, que pode ser
um duplo do próprio Rosa, um doutor, cuja voz não é transcrita no
romance. Apenas suas marcas são evidentes na fala do próprio
narrador: “O senhor aprova?”; “O senhor não acha? Me declare
franco, peço. Ah lhe agradeço.”.
Interlocutor oculto, cujas falas são apenas refletidas, é um fiador
da verossimilhança do romance, isto é, de sua possibilidade de
existência: um narrador sertanejo, ex-jagunço e atual fazendeiro,
conta a um doutor da cidade que, por sua vez, será o responsável
pela transcrição do romance: “Campos do Tamanduá-tão – o
senhor aí escreva: vinte páginas...”.
A própria narrativa se duplica e se transforma: afinal quem é o
responsável pela história? O narrador ou quem fez a transcrição?
Por isso, ganha importância o signo final do romance, a lemniscata,
símbolo do infinito. A lemniscata é apenas um laço, que pode
fechar ou abrir o romance, possibilitando a colocação de novos
travessões e de várias respostas, prolongando a conversa. Por outro
lado, a transcrição da narrativa indica que não há uma relação
de verdade da narração de Riobaldo com os fatos acontecidos (a
história do mundo, externa) nem da narrativa transcrita pelo
interlocutor com a história contada por Riobaldo: “Ah, mas falo
falso. O senhor sente? Desmente? Eu desminto. Contar é muito, muito
dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia
que têm certas coisas passadas – de fazer balance, de se remexerem
dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora,
acho que nem não”.
Grande sertão: veredas consubstancia-se na fala de Riobaldo, velho
jagunço que, tendo superado as agruras da guerra e os conflitos do
amor, se empenha em entender o descontrole de sua vida, donde resulta
o desejo de vincular o próprio destino às leis gerais do grupo e do
universo. Assim, ele investiga não só o seu passado de guerreiro,
mas também a natureza da alma, de Deus e do inferno. (Discutindo
Literatura – Especial –Ano 1, nº4 – pág. 16 a 19 - Editora
Escala Educacional)
3 RECEPÇÃO CRÍTICA
Com o lançamento de “Grande sertão: veredas” houve grande
impacto no cenário literário brasileiro. O sucesso do livro, logo
traduzido para diversas línguas, foi devido, especialmente, às
inovações formais. Tornou-se um sucesso comercial, e recebeu três
prêmios nacionais: o Prêmio Machado de Assis, do Instituto Nacional
do Livro, em 1961; o Prêmio Carmem Dolores Barbosa, de São Paulo,
em 1957; e o Prêmio Paula Brito, do Rio de Janeiro. A publicação
fez com que Guimarães Rosa encabeçasse a lista tríplice, composta
por Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, como os melhores
romancistas da terceira geração modernista brasileira.
Sabe-se que Rosa não gostava de críticas desfavoráveis, colando-as
em seus álbuns de recortes de cabeça para baixo; e também se sabe
que, em conversa com seu tradutor alemão Günter Lorenz, em
1965, Rosa reclamou da incompetência e da falta de respeito dos
críticos em relação à sua obra e afirmou: “o bom crítico, ao
contrário, sob a bordo da nave como timoneiro”.
Essa expectativa fez com que o autor inserisse elementos cifrados em
sua obra, para que os leitores ou críticos os descobrissem
posteriormente, ou informasse coisas que poderiam passar
despercebidas.
4. FRAGMENTOS DE “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”
4.1 RIOBALDO
- “O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou
nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo... Eu
quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”
- “Tudo o que foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente
está num cômpito. Eu penso é assim, na paridade. O demônio na
rua... Viver é muito perigoso: e não é não. Nem sei explicar
estas coisas. Um sentir é o do sentente, mas outro é o do
sentidor”.
- “O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas
não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que
elas vão sempre mudando.”
- “O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo
quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver –
a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de
tudo.”
4.2 DIADORIM
- “Relembro Diadorim. Minha mulher que não me ouça. Moço: toda
saudade é uma espécie de velhice”.
- “Meu corpo gostava de Diadorim. Estendia a mão para suas formas;
mas, quando ia, bobamente, ele me olhou – os olhos dele não me
deixaram. Diadorim, sério, testalto. Tive um gelo. Só os olhos
negavam. Vi – ele mesmo não percebeu nada. Mas, nem eu; eu tinha
percebido?”
- “Eu tinha recordação do cheiro dele. Mesmo no escuro, assim, eu
tinha aquele fino das feições, que eu não podia divulgar, mas
lembrava, referido, na fantasia da ideia”.
- “Diadorim é a minha neblina”.
4.3 DIABO
- “Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente
sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo”.
- “O pacto nenhum – negócio não feito. A prova minha, era que o
Demônio mesmo sabe que ele não há, só por só, que carece de
existência. E eu estava livre limpo de contrato de culpa, podia
carregar nomina; rezo o bendito!”
- “Olhe: o que devia de haver era de se reunirem-se os sábios,
políticos, constituições gradas fecharem o definitivo a noção –
proclamar por uma vez, artes assembléias, que não tem diabo nenhum,
não existe, não pode. Valor de lei! Só assim, davam tranqüilidade
boa à gente. Por que o Governo não cuida?!”
4.4 BATALHA
- “Mas que o inimigo já estava aproximado, eu pressenti: se sabe,
pela aperreação do corpo, como que se querendo ter mais olhos; e
até no que-é do arraigado do peito, nas cavas, nas tripas”.
- “Carece de ter coragem... Carece de ter muita coragem...”
- “Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem”.
- “Agora eles estavam arrumando o mundo de outra maneira. Tudo se
media munição, e era fuzil e rifle se experimentando. A guerra era
de todos”.
(Grande Sertão: Veredas – 29ª Edição – Editora Nova
Fronteira)
5. CONCLUSÃO
O presente trabalho é uma analise sobre o livro “Grande sertão:
veredas”, moderno romance brasileiro e obra prima de João
Guimarães Rosa. O objetivo é explicitar, interpretar e também
debater a multiperspectiva narrativa proveniente das inúmeras
indagações e reflexões, características complexas da estrutura de
Riobaldo, narrador-protagonista do enredo; assim como tmabém um
resumo da vida de Guimarães Rosa, o uso da palavra em suas mais
diversas nuances, a filosofia latente e a beleza poética presentes
nas páginas de “Grande sertão: veredas”
Mas como acontece com toda literatura regional que ultrapassa a
simples descrição para situar-se no plano da arte, ela adquire
dimensões universais pelo vigor e beleza do texto. Nada mais
natural: sendo o homem o tema de toda grande literatura, são os
elementos básicos da condição humana que, em última análise,
encontramos em Grande sertão: veredas, no que ela tem de mais
fundamental: o amor, a morte, o sofrimento, o ódio, a alegria.
Interatividade
com
o
curso
de
arte:
A
importância
está
na
riqueza
e
interatividade
que
a
arte
tem
com
outras
disciplinas
inclusive
com
um
livro
como
este,
histórico,
ou
seja
baseado
em
fatos
reais.
Seria
importante
todos
os
professores
terem
acesso
a
esta
obra
maravilhosa.
A
importância
está
na
riqueza
e
interatividade
da
temática
educacional.
A
experiencia
proporcionada
por
interação
amplia
os
nossos
conhecimentos
e
entendimento
academicos
de
forma
universal
enriquecendo
nossa
formação
profissional.
O
livro
coloca-nos
a
par
de
uma
realidade
histórica.
É
muito
importante
termos
a
mente
e
o
espírito
abertos
para
podermos
aprender
com
a
história
e,assim
oferecermos
aos
alunos
da
rede
pública
um
ensino
de
qualidade
e
integração
no
ambiente
escolar.
6.
Referências Bibliográficas:
ARRIGUCI
JR., Davi. O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães
Rosa. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, no 40, p. 7-29, Nov. 1994.
BOLLE, Willi. grandesertão.br: o
romance de formação do Brasil. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34,
2004, p.
COUTINHO, Eduardo. Em busca da
terceira margem: ensaios sobre o Grande sertão: veredas. Salvador:
Fundação Casa de Jorge Amado, 1993, p.61-70.
- DUARTE, Lélia Parreira; ALVES Maria Theresa Abelha. (Org.)
Outras margens: estudos sobre a obra de Guimarães Rosa. Belo
Horizonte: Autêntica/ PUC Minas, 2001, p. 317- 330.
www.portalsaofrancisco.com.br